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Cicatriz dói mas ajuda!

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Lembra quando você levava um tombo quando criança? Na maioria das vezes, você tinha certeza de algumas coisas:

Cair machuca e dói muito.
Uma bronca era inevitável.
O machucado seria tratado com um vidro de “cuspe do diabo”.
O remédio ardia, manchava e vinha com uma pazinha pra cutucar o machucado.
Uma cicatriz estaria lá para lembrar do acontecimento.

Diante desse cenário, qualquer criança se esforçava para evitar novos tombos, pois a conclusão era muito simples: cicatriz dói.

Claro que essa situação refletia uma forma muito simples de desenvolver a maturidade da criança e tinha o objetivo de promover um conceito de aprendizado que pretendia prepará-la para a realidade da vida adulta. Escrevo isso no passado porque, evidentemente, essa não é mais a realidade que observamos na educação de hoje.

Ficando no mesmo exemplo, hoje, quando uma criança leva um tombo, algumas coisas podem acontecer:

Há possibilidade de que ela não se machuque, pois estará com protetores ou em ambientes “emborrachados” e com “cantos arredondados”.
Se machucar, não levará bronca, pois quem está cuidando não é a mãe nem o pai, e sim, alguém que é pago para não deixar isso acontecer.
Diante do cenário, os pais (talvez motivados pela culpa da ausência) tentarão aplacar a dor dando algum tipo de presente como forma de compensação.
Para tratar o machucado, usarão o mesmo remédio do passado, contudo, ele agora não arde, não mancha (é incolor), não tem a incômoda pazinha, que foi substituída por um “spray” e, para completar o tratamento é analgésico, ou seja, tira a dor do machucado.

Nesse cenário, qualquer criança entende que não precisa lidar com as consequências, pois alguém se preocupará com isso e ela pode até associar a uma ideia de que, falhando, pode receber atenção e recompensas. Parece que permitir que uma pessoa tenha cicatrizes se tornou inaceitável, chegando a ser considerado um ato de cruel ter qualquer atitude que exponha alguém a um cenário que gere uma cicatriz.

Isso tem criado jovens mais frágeis e menos preparados para lidar com frustrações. Podemos até afirmar que uma parte importante dos mais jovens não consegue lidar com momentos que limitem suas ações ou contrariem suas expectativas. Vemos que, muitas vezes, eles paralisam diante de desafios que consideram inferiores às suas capacidades e agem como se buscassem o reconhecimento e os privilégios antes mesmo de fazer algo concreto para merecê-los.

Essas são atitudes de alguém que tem o privilégio de escolher suas batalhas. Quando encontramos um jovem assim, acabamos por lamentar profundamente a falta das cicatrizes que ele precisa ter. Afinal, atitudes como essas demonstram um tipo de cinismo egoísta, que só pode existir na ausência de dificuldades.

A única forma de lidar com esse comportamento é desenvolver a maturidade, que acontece quando o jovem aprende a lidar com as consequências de suas escolhas, ou seja, aprende com as próprias cicatrizes.

Devemos lembrar que cicatriz dói, mas ajuda muito!